Beto, em entrevista a A BOLA, fala da final da Liga Europa que ajudou a conquistar, no desempate por penáltis, contra o Benfica em 2014.
– Na sequência daquela final da Liga Europa, em 2014, os benfiquistas ainda o abordam na rua por causa daquele penálti de Cardozo, no qual se terá adiantado?
– Sim. Alguns utilizam uma forma muito mais de brincadeira, irónica; outros ainda insultam; é o que é; foi o que foi; foi como foi. Entendo a frustração das pessoas do Benfica porque era a segunda final consecutiva que o Benfica perdia, uma final europeia que o Benfica não ganhava há muito. Entendo a frustração e as críticas, a paixão pelos clubes, agora não entendo quando se ultrapassam os limites. É triste, antigo.
– Cumpriu as regras em todos os penáltis?
– Não é uma questão de ter a noção se cumpri ou não as regras. Quem não joga futebol não tem noção nenhuma do que é jogar futebol e ser guarda-redes, defesa ou avançado; do que é o instinto, do momento, o fazer o que sai no momento. O que fiz no penálti do Cardozo foi instintivo. As imagens estão lá. Se me perguntar se dei um passo à frente? Dei, mas foi instintivo. No entanto, as pessoas não falam do penálti do Rodrigo e também o defendi. Aliás, na carreira defendi 48 penáltis, devo ser o guarda-redes com mais penáltis defendidos no seu percurso.
– Se houvesse VAR, as defesas dos penáltis na Liga Europa tinham sido validadas?
– No penálti do Cardozo, provavelmente, seria repetido mas provavelmente teria defendido outra vez porque ele ia mudar. Vamos lá ver uma coisa: o Cardozo nunca bateu um penálti para aquele sítio, nunca. O Cardozo batia sempre no meio ou em força, cruzado, para o lado esquerdo do guarda-redes. Tinha jogado várias vezes contra o Cardozo, já me tinha batido penáltis duas ou três vezes e estudei-o muitas vezes. Mas pegando nas minhas palavras, tinha instinto e o instinto era o meu instinto felino e eu achei que nesse dia, numa final europeia, o Cardozo ia ter a coragem de mudar. O que é facto é que ele mudou, bateu em jeito para o lado direito do guarda-redes, é verdade que o meu instinto foi adiantar-me um pouco. Se houvesse VAR, provavelmente tinham repetido o penálti mas eu não posso voltar a 2014 e apagar aquilo que foi a final da Liga Europa contra o Benfica. As pessoas questionam: ‘porque não devolves?’ Não faz sentido. Dizem também: ‘defendeste tudo, não tinhas nada de defender tudo.’ Então mas eu não tinha de defender tudo durante os 120 minutos, tinha de deixar as bolas entrar porque era uma equipa portuguesa? Não. Algumas pessoas não entendem que tinha de defender tudo durante os 120 minutos porque estava a defender as cores, naquele caso, do Sevilha. Se estivesse a defender as cores do Chaves ou do Leixões era igual, bem como se fosse do Sporting ou do Benfica. Tinha de defender aquelas cores, custasse o que custasse. Foi instintivo e não posso apagar o que aconteceu.