Este foi o primeiro troféu do futebol português

Campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga e Supertaça. Atualmente, são estas as quatro competições de futebol que preenchem o calendário nacional. A mais velha, o campeonato, começou a ser disputada em 1934, mas está (muito) longe de ser o troféu mais antigo do futebol nacional.

Para isso, temos de recuar até ao final do século XIX e fazer uma viagem até ao Restelo, mais precisamente, até à entrada do Parque Nacional de Monsanto, onde, por entre a paisagem verdejante do local, está um clube que caiu algo no esquecimento para a generalidade dos portugueses, mas que guarda uma história que poucos clubes em Portugal têm: o Club Internacional de Foot-ball (CIF).

Ao entrar no museu do CIF, por entre as inúmeras taças e conquistas que hoje em dia enchem o espaço, está um troféu que chama a atenção. No canto, exposto numa vitrine, encontra-se uma taça de prata que cativa logo o olhar e desperta o interesse de quem a vê. Quanto mais se aproxima do troféu, mais ciente se fica do passado que carrega. Por trás, uma fotografia a preto e branco, com uma equipa (que se assume logo que foi a que conquistou esta distinção) e, ao lado, uma inscrição que conta a história do galardão.

«Taça conquistada pelo Grupo de Lisboa, em 1894, quando da realização do Porto-Lisboa, em futebol, e oferecida por sua majestade El-Rei D. Carlos I»

Esta taça, conhecida como Taça D. Carlos I, trata-se do primeiro troféu do futebol português. Idealizada por um presidente do FC Porto e conquistada por um grupo de jogadores de Lisboa, no qual figurava Guilherme Pinto Basto, fundador do Club Lisbonense e do CIF, considerado o pai do futebol português, que conseguiu convencer o rei D. Carlos I e a família real a assistirem, como contou a A BOLA o ex-presidente do CIF e apaixonado pela história do clube, Ernesto Teixeira.

«A primeira taça em Portugal foi atribuída ao Guilherme Pinto Basto, como chefe da equipa de Lisboa, que foi disputar um jogo com uma equipa do Porto, a convite do presidente do FC Porto, António Nicolau de Almeida, na altura, que lhe mandou uma missiva a convidá-lo para um jogo de futebol na cidade do Porto», começou por dizer.

«O Guilherme Pinto Basto, como era muito amigo do rei D. Carlos, acabou por lhe propor a ideia e ele aceitou perfeitamente. Instituiu uma taça com o seu nome, a joalharia da Coroa fez a taça e o jogo foi integrado nas comemorações henriquinas, que se estavam a realizar no Porto», explicou.

O encontro foi jogado no Campo Alegre, a 2 de março de 1894. Pela seleção de Lisboa, que integrava jogadores do Club Lisbonense, do Carcavelos Club e do Braço de Prata, pontificavam os irmãos Pinto Basto e outros atletas e dirigentes que viriam a ser os fundadores do CIF, casos de Carlos Villar, Afonso Villar e Clyde Barley.

Do outro lado, a equipa do Porto contava com jogadores do Oporto Cricket Club e do FC Porto, entre os quais Albert Kendall e Alfred Kendall, bisavô e tio bisavô, respetivamente, do atual presidente portista, André Villas-Boas.

«Foram jogadores do Lisbonense e de outras equipas de Lisboa e foi o Guilherme Pinto Basto, que era o presidente do Lisbonense que dinamizou tudo isso. O FC Porto tinha sido constituído em 1893, ainda estava a formar ainda uma equipa de futebol, mas ainda nessa seleção de Porto integrou quatro jogadores. Os outros eram do Oporto Cricket Club. No Museu do FC Porto, à entrada, está uma fotografia do António Nicolau de d’Almeida, a escrever. Está a fazer o convite a Guilherme Pinto Basto para participar neste jogo», contou o ex-dirigente CIFista.

A equipa de Lisboa foi para a Cidade Invicta de comboio e a viagem durou cerca de 14 horas. Mas ainda chegou cedo, porque a partida teve de ser adiada 15 minutos, devido a um atraso da comitiva real. No final, Lisboa saiu vencedora da contenda, por 1-0. A Taça foi entregue ao capitão de equipa de Lisboa, Guilherme Pinto Basto, que a guardou até à fundação do CIF, altura em que a entregou ao clube, onde permanece até hoje.

Lisboa ganhou por 1-0, e essa taça falta lá porque está aqui. O Guilherme Pinto Basto trouxe a taça, e mais tarde, quando fundou o CIF, entregou a taça ao CIF, e ela aqui está. É o primeiro troféu do futebol português, por isso é uma preciosidade de valor inestimável e guardamo-la com muito carinho», afirmou Ernesto Teixeira.

 

fonte: abola.pt