Rúben Amorim deu a primeira conferência de imprensa como treinador do Manchester United
Comparações com José Mourinho:
“O Mourinho é uma pessoa e eu sou outro treinador, histórias completamente diferentes. Contrato? É perfeito porque em dois anos vamos perceber se sou o treinador ideal para o projeto ou não. Acho que é o tempo perfeito para o meu contrato.”
Quem é Rúben Amorim, Sporting e Gyokeres:
“Em Portugal toda a gente já me conhece. Em Inglaterra, vão a tempo de conhecer-me. Boa sorte ao João. Quero que eles ganhem as competições todas. Gyökeres? Tem jogo hoje, espero que ele jogue bem, não se lesione e tenha sucesso no Sporting.”
Objetivo a curto prazo:
“Podemos responder isso voltando ao passado, às coisas impossíveis de fazer e depois elas acontecerem. Vamos jogo a jogo. O objetivo neste momento é ganhar ao Ipswich. É a única coisa que temos em mente porque sei que ganhando teremos uma semana muito melhor logo a seguir. O meu objetivo é esse. Ganhar o jogo e mais tempo para preparar o jogo seguinte. Sei que é um trabalho muito difícil, que não há muita gente a acreditar, mas em Portugal nós já fizemos isso.”
Filosofia de jogo:
“Muitas vezes, o treinador tem uma ideia de jogo e tentamos implementá-la no clube. Mas temos de olhar para a história do clube, do campeonato em que estamos. As pessoas aqui gostam de um jogo de ataque, intenso. Mas temos de juntar isso à ideia do treinador, que também é alguém que gosta de jogar para ganhar. Juntando isso, ao facto de esta ser uma Liga intensa, de choque, de golos… temos de tentar juntar estes dois aspetos.”
Realidade diferente:
“É diferente, é maior. Há muitos departamentos, muito diferente do que estava habituado em Portugal. O Sporting é um clube grande, mas em Portugal. Temos tantas coisas para fazer, não é só gerir a equipa, há muito mais para fazer. Mas eu tenho ajuda nesse processo, mas sinto-me muito feliz e confortável. Sinto-me em casa.”
Por que acredita que irá mudar o Manchester United?
“Porque sou um pouco sonhador. E também porque acredito em mim mesmo e nas minhas capacidades. Também acredito no clube, acredito que temos a mesma ideia. Acredito também imenso nos jogadores. Eu sei que vocês não acreditam assim tanto neles, mas eu acredito muito neles. Quero tentar coisas novas também. Vocês pensam que não será possível, eu acredito que sim e no fim veremos.”
Quanto tempo precisará para implementar as suas ideias?
“Não penso em reparar o Manchester United. Acredito que temos de melhorar em muitas áreas, principalmente na forma como olhamos para o jogo e tentamos entendê-lo. Sei que será muito para mudar e pedir aos jogadores, ainda por cima a meio da temporada. A capacidade física da equipa também é outra das coisas que queremos melhorar durante este período inicial. E acaba por ser isto. Não sei quanto tempo demorará, mas sei que quando se está num clube como o Manchester United que o mais importante é ganhar jogos. Sei que preciso de muito tempo, porque falamos da maior Liga do mundo, e temos de melhorar muito para tentar vencê-la. Primeiro, temos de ganhar jogos para tentar ganhar títulos.”
Falou com José Mourinho?
“Ele mandou-me uma mensagem. Disse-me que vinha para um clube adorável, um grande clube e também com pessoas amáveis. E isso está corretíssimo porque foi exatamente isso que senti. Mas muitas coisas mudaram entretanto. Estou uma pessoa diferente desde essa altura [em que realizou um estágio no United com Mourinho]. Nessa altura eu estava a aprender aqui no clube, agora quero ensinar alguma coisa, principalmente aos meus jogadores. Mas o clube continua a ser grande, assim como o maior em Inglaterra. Apenas queremos ganhar.”
Viu a conferência de Mourinho em 2004 quando assinou pelo Chelsea? Que impacto teve a mudança dele?
“Não foi só a mim, mas a todos os treinadores portugueses. Mostrou-nos que podíamos ser os melhores do mundo, mesmo sendo nós de um país pequeno. Mas sou diferente de Mourinho, sou uma pessoa diferente. Mas também lembro-me dessa altura. Nessa altura olhávamos para Mourinho e conseguíamos sentir que ele podia vencer em qualquer lado. Ele era um campeão europeu. Eu não sou campeão europeu. Mas sou um tipo diferente, num momento diferente e também o próprio futebol está diferente. Acredito que sou a pessoa ideal para este momento. Sou um treinador jovem, consigo entender os jogadores e vou tentar isso para ajudá-los. Um pouco como Mourinho também o fez no Chelsea. Se bem se recordam, nessa altura, os jogadores mais novos era o Lampard, esse tipo de jogadores. Hoje em dia, esse tipo de jogadores são diferentes. Daí acreditar que sou a pessoa ideal para este momento.”
Impacto nos jogadores, equipa definida e mercado de transferências:
“Se for um treinador que chega aqui e já tem uma equipa montada pode dar-se mal e estar enganado. Estamos a falar de um clube de futebol onde passará algum tempo e como treinador não sabemos isso. Temos de trabalhar com todos e melhorar com todos. Para isso, temos de melhorar em todos os departamentos que estão ligados a esse fator. Temos de melhorar na informação sobre os jogadores, olhar também para os jogadores que queremos para desempenhar as funções que idealizamos na equipa, mas para isso estou eu cá, sou eu quem tem a última palavra. Não porque se trata do facto de ser um direito do treinador, mas sobretudo porque também é da sua responsabilidade. Os resultados dizem-me a mim. Também tenho de compreender a Liga. E quando tudo isso estiver alinhado, com os jogadores também dentro desta mesma ideia, só depois de tudo isso estar alinhado é que nós podemos começar a pensar em comprar ou vender jogadores. Não estou a dizer que tenho a última das últimas palavras a dar [no aspeto de vender ou contratar jogadores], mas, como devem calcular, a minha palavra tem um peso importante nesse dossier. E é algo que também deve ser assim. Eu sou o treinador, então devo ser eu quem escolhe os jogadores.”
Maior desafio no Manchester United:
“Ainda não sei qual será o meu maior desafio aqui no clube, tentarei desvendar isso no meu primeiro mês. Já estiveram aqui muitos tipos de treinadores diferentes. Já estiveram aqui treinadores que já ganharam tudo, como o Van Gaal e Mourinho, estiveram alguns mais novos, que conheciam o clube de dentro para fora, como o Solskjaer. Já esteve aquele que era um dos melhores fora das cinco principais ligas, que era o Ten Hag. Temos de melhorar enquanto clube. Temos de aproveitar o tempo que temos. Mas temos, entretanto, de ganhar jogos. Não tenho respostas para tudo. À minha maneira, vamos tentar melhorar o que pudermos e ganhar o máximo de jogos possíveis neste início. Vou mostrar que sou a pessoa indicada para este momento. Se posso estar enganado? Sim, posso, mas espero que não. Não estou preocupado. Acredito vivamente que sou o treinador certo para o Manchester United.”
Porque é que os jogadores falharam sob a orientação de Ten Hag?
“Tenho de acreditar neles. Estamos a falar de uma semana, semana e meia, de trabalho com eles. Mudaram de treinador, eles estão preparados para mudar as coisas, mas têm de estar sobretudo preparados para aceitar as novas ideias e acreditar nelas. Senti isso. Até me provarem o contrário, vou acreditar neles.”
Erik Ten Hag disse que era preciso paciência, acha que dois anos e meio chegam para implementar as suas ideias?
“Tenho dois anos e meio de contrato. Creio que em dois anos dá para perceber se sou ou não o treinador ideal para este processo. Vamos precisar de mais tempo. Se olharmos para outros clubes que neste momento estão a ganhar mais troféus, eles já estão neste processo há mais tempo. Mas estão a ganhar agora e por isso é que têm mais tempo. Vamos precisar de mais de dois anos e meio para conseguirmos implementar tudo o que queremos. Vamos ter, obviamente, de ganhar alguma coisa pelo meio. Mas este é o período ideal para percebermos se queremos manter o mesmo rumo ou se teremos de seguir um rumo diferente. Vamos ver como tudo acontecerá.”
Acha que os jogadores acreditam nas suas ideias?
“Eles querem jogar, neste primeiro momento eles querem apenas jogar. Depois, veremos. Temos de perceber que há várias coisas que conseguimos ver através da televisão e da análise de vídeo, mas outra coisa é treinar com eles no campo e testámos em posições diferentes. Todos eles querem jogar agora. Se tiverem a oportunidade de jogar a guarda-redes também jogam, mas estão abertos para mudarem algumas das suas posições. Quando não se ganham jogos, começa-se a duvidar um pouco da ideia e do processo. É normal. Há coisas pequenas que se começam a sentir na forma como os jogadores andam, como caminham para o relvado ou até mesmo para o balneário. Conseguimos sentir se estão ou não confiantes. Eu acredito que isso é natural. Tenho de acreditar neles. Sei que tudo isto vai levar tempo. Se olharmos mesmo para esta temporada, conseguimos ver jogos em que eles tiveram uma primeira parte má e depois, na segunda parte, sem qualquer grande alteração tática, conseguiram dar a volta. Têm de aplicar essa mudança de mindset e de forma de pensar e abordar o jogo a todas as partidas que tiverem pela frente.”
Vai usar o seu modelo de jogo ou um mais adequado que tenha visto aqui?
“Como treinador temos de escolher sempre uma forma ou outra. Eu escolho sempre a nossa forma. Prefiro arriscar um pouco, mas sobretudo neste primeiro momento. Se sentir que os jogadores acreditam seriamente na nossa ideia desde o início, nós também vamos acreditar. Não há espaço para pensamentos secundários. Tal como eu já vos disse, é a mesma coisa jogar com cinco jogadores atrás na linha defensiva do que com três. Os princípios são exatamente os mesmos, apenas as posições mudam ligeiramente. No domingo, vão ver a lista de jogadores [convocados], o onze inicial, e não vão ver muitas diferenças, mas sentirão no jogo, na posição dos jogadores, na forma como vão receber e tratar a bola. Será aí que irão ver as diferenças.”